quarta-feira, 19 de março de 2014

Casa

Em geral, os clientes que me procuram para elaborar um projeto residencial têm preferência por um certo tipo de linguagem arquitetônica específica.

Leia-se linguagem arquitetônica é o conjunto de elementos que são utilizados para fazer uma composição arquitetônica.

Voltando ao assunto: as pessoas, em geral, têm preferência por elementos que lembram as heranças açorianas e materiais naturais.
Escuto muito a seguinte frase: "ah! Quero uma casa com um telhadão!"

Confesso que esta frase já foi bastante irritante para mim. Agora, não mais. Acho por bem não me importar mais tanto. Isso acontece com os arquitetos porque, na Universidade, conhecemos todas as belezas do Modernismo. Por exemplo:

Residencia Farnsworth - Mies Van der Rohe
Não é fantástica? E não há um telhadão.

Sei o que você está pensando: Mas e a privacidade?
Tudo bem, concordo. Entretanto, é preciso ver esta obra com olhar mais apurado: esta obra representa a ruptura de uma escola arquitetônica altamente rebuscada, houve uma quebra de paradigma radical, uma proposta com linhas puras e integração do exterior com o interior. Foi um momento em que foi preciso quebrar as regras com liberdade de expressão. Assim como fez Coco Chanel no início do século passado, uma época em que a moda feminina ditava regras do tipo: quanto mais adereços e jóias, melhor. Ela veio para quebrar o paradigma, ela pregou: "Menos é mais.". Assim como fez Mies Van der Rohe.

Vamos a outra unanimidade:

Residencia Fallingwater - Frank Lloyd Wright
Note a dimensão dos terraços em balanço! Enorme! Assustador para qualquer calculista ainda hoje!
Há uma lenda: os trabalhadores não queriam tirar as escoras, com medo de que a estrutura desabasse e todos morressem. O arquiteto garantiu e precisou ficar com eles!

De novo: não vejo nenhum telhadão nesta casa magnífica. E garanto que se houvesse algum, a composição seria uma verdadeira tragédia.