segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Quero o meu ap!

Nos últimos anos, principalmente a partir de 2008, se tornou muito comum o grande atraso na entrega de obras. Falo de grandes empreendimentos residenciais. Falo de atrasos de mais de 2 anos!

Esta situação acarreta grandes prejuízos aos consumidores, que vem os seus projetos de vida alterados, com perdas financeiras por conta da necessidade de se manter em imóveis alugados durante um tempo não previsto.


Para as incorporadoras, os prejuízos também são altos: multas contratuais, despesas judiciais, etc. Isso sem se falar que a ampliação do tempo de execução da obra é um custo extra por si só.

Percebe-se que esta situação é atroz às duas partes.

Então, porque os atrasos de obras são tão comuns? É óbvio que há algo de errado.

Analisando superficialmente o tipo de obra que executamos, percebe-se que este setor é baseado no trabalho artesanal. Isso significa que o trabalho é feito com base no uso acentuado de mão-de-obra.

Quem trabalha com obra atualmente sabe que a mão-de-obra é contratada sem qualquer tipo de exigência de escolaridade, nem de treinamento via escolas para o aprendizado da labuta.

Então, como isso funciona? Simples: um pedreiro, em geral (não é a minha intenção generalizar), é alguém que começou a sua carreira fazendo um bico como ajudante de um pedreiro e aprende toda a prática com esta pessoa. Para o bem e para o mal. Ou seja, o que este pedreiro faz de correto ou de errado, será repetido pelo seu aprendiz. A partir do momento que ele consegue um emprego para trabalhar com um arquiteto ou engenheiro, este profissional faz o treinamento, conforme a necessidade da obra específica.

E acabou de aparecer um novo custo neste sistema: um profissional especializado precisa treinar equipes de obra a cada novo empreendimento. Para quem não sabe: treinamento custa dinheiro...
Há situações em que o arquiteto ou engenheiro precisa treinar várias equipes de obra durante a execução do mesmo empreendimento! Isso porque, com a falta de mão-de-obra, estes trabalhadores são disputados entre as empresas. Esta prática é chamada de "fura-olho".

O uso de maquinário e equipamentos é muito restrita. Há pouquíssima industrialização na obra e há uma chance muito maior de ocorrer erros.´

Isso é ruim? Depende do ponto de vista de quem responde.
É ruim para quem tem prejuízos com obras atrasadas.
É bom para quem tem chances enormes de ter emprego garantido por muitos anos.

Vejamos o gráfico de desemprego:



Ninguém pode crer que os índices de desemprego no Brasil vem diminuindo ano a ano porque as empresas só contratam pessoas com escolaridade de nível superior. Não.
Estes índices vem diminuindo porque não há investimentos em tecnologia, as empresas são dependentes de mão-de-obra barata, ofertando um grande número de postos de trabalho.

Qual foi a industria que "salvou" o PIB brasileiro várias vezes? A indústria da construção civil.
No gráfico abaixo, percebemos que se a construção civil fosse um país, seria mais rico que o brasil nos anos de 2008, 2010, 2011 e 2012.




Ou seja, há interesse político-econômico para que a construção se mantenha sem desenvolvimento tecnológico, para que não tenhamos uma grande elevação no índice de desemprego.

Se houver, no futuro próximo, um grande investimento em tecnologia, ao invés de apagão de mão-de-obra barata, teremos um grande apagão de mão-de-obra especializada. Isso é interessante ao governo? Não!

Conclusão: as incorporadoras são as grandes vilãs? Não. Mas elas têm, sim, a sua boa parcela de culpa.